ESPECIAL CARNAVAL
Tabajara vai contar os 60 anos de existência da escola
“Pé Vermelho e Fidalguia – Tabajara: 60 anos de Alegria”. É com esse enredo que a escola de samba mais antiga de Uberlândia entra na passarela no domingo, dia 02 de março. Com cerca de 600 componentes, a escola será a segunda a desfilar e a diretoria garante que o público vai sentir muita emoção com as histórias de lutas e conquistas da agremiação.
Detentora de 22 títulos de campeã, a Tabajara tem um diferencial em cada enredo. Neste ano, a escola vai citar a questão da especulação imobiliária na cidade. Além disso, a agremiação busca sempre levar temas educativos que vão além dos quatro dias de folia. “Temos diversos projetos educativos espalhados pelas escolas e procuramos fazer intercâmbios que marcam épocas e fatos reais. Para nós, o carnaval é o momento mágico, único de mostrar ao público um trabalho de 12 meses de aprendizado, conhecimento e estudos”, disse o presidente Leocádio da Silva, conhecido como Leozinho.
A escola vai se apresentar com quatro carros alegóricos, 12 alas, três casais de mestre-sala e porta-bandeira, dois porta-estandarte, entre outras curiosidades. Um dos destaques é a tradição familiar que perpetua na Tabajara. Um dos casais de mestre-sala e porta-bandeira é mãe e filho e a filha de apenas 05 anos será uma das porta estandarte. As tradicionais baianas já estão preparadas para rodar e encantar na avenida. Para o encerramento da escola os dirigentes estão preparando uma surpresa que está guardada a sete chaves.
História e Enredo
Neste ano, a Tabajara comemora 60 anos de fundação. É a primeira escola de samba de Uberlândia, herdeira de um movimento étnico de resistência iniciado pela comunidade negra nos desfiles de ranchos carnavalescos, os chamados “Tenentes Negros”. A escola foi criada no bairro Patrimônio, antigo reduto de negros recém-libertos e que durante muitos anos foi a representação da segregação racial que existia na cidade. A partir daí, depois de discutirem entre a comunidade, realizarem seminários e pesquisas, a direção chegou a decisão de que nada mais justo do que homenagear os fundadores da escola.
Leozinho conta que essa é uma forma de enaltecer uma história de resistência contra o preconceito a partir dos desfiles de carnaval. “Queremos enfatizar a história do povo do bairro Patrimônio, “berço” da cultura popular de Uberlândia, que continua resistindo contra o seu atual ‘desaparecimento’ diante da especulação imobiliária que avança sobre esse território”, disse. Com base nesse conceito, a Tabajara organizou o enredo em quatro partes:
Pé Vermelho; Fidalguia; Tabajara – 60 anos; e alegria. Essa última aborda a “alegra” num tom mias crítico. Em cada parte do enredo, os componentes vão esbanjar cultura, conhecimento e tudo mais que o momento exige, mas deixando sempre uma mensagem ou uma reflexão.
Segundo o conceito de alguns dicionários, a designação “pe vermelho” é um modo pejorativo para indicar um caipira ou uma pessoa de origem humilde que vivia em áreas urbanas sem calçamento. Também são chamadas assim as pessoas provenientes do interior de algumas regiões que apresentam o chamado solo “terra roxa”. Os moradores do bairro Patrimônio, bem como de outras periferias de Uberlândia, eram chamados assim pela elite da cidade, que fazia referência ao barro e a poeira que eles traziam em seus pés.
No caso da fidalguia, a Tabajara pretende tratar da fantasia que transforma as pessoas durante o carnaval. O sentido mais desordenado da festa onde o pobre vira nobre, o homem em mulher, o adulto em criança. Quando o enredo menciona os 60 anos de fundação da escola de samba, o intuito é homenagear os “bambas”, as personagens históricas e os precursores da Tabajara, entre eles, a iniciativa do mestre Lotinho que deu o pontapé inicial em 1954. Ele e o mestre Pato pensaram em criar a Tabajara a partir de um bloco carnavalesco com sede no extinto bar “Caba Roupa” ou José do Patrocínio, reduto dos negros da região da Vila Osvaldo.
O nome Tabajara foi inspirado na Orquestra Tabajara de Severino Araújo, do Rio de Janeiro. Na quarta etapa do enredo a escola quer fazer um protesto contra o “desaparecimento” do bairro Patrimônio, considerado celeiro da cultura popular de Uberlândia. De acordo com Leozinho, isso tudo por causa da especulação imobiliária que tem aguçado a disputa pelo território.
Para o presidente da agremiação, o carnaval de 2014 é mais um marco para a “família Tabajara” que congrega pessoas, prioritariamente, da comunidade do bairro Patriomônio, mas também de outras partes da cidade. “Para nós o carnaval começa quando termina o carnaval. Temos procurado focar constantemente no trabalho além avenida. Realizamos seminários, intercâmbios e projetos com a comunidade no intuito de arrecadar verbas e ideias para os próximos carnavais. Acredito que estamos no caminho da profissionalização do carnaval”, disse.
A Tabajara realiza diversos trabalhos sociais e educativos em creches e instituições na cidade. O objetivo, segundo o presidente, é criar nas crianças e adolescentes uma cultura, uma história popular e que sirva de documentário para a agremiação e para a própria cidade. Além disso, já existe o projeto do “Grupo Tabinha” que é um referencial da bateria da escola.
Cássia Bomfim
Cultura
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